Dark Souls: Punição Sedutora

Uma retrospectiva da série mais irritantemente viciante da era moderna

O projeto do diretor Hidetaka Miyazaki era bastante ambicioso para a época: um RPG de ação situado em um mundo sombrio e hostil, onde o jogador é punido incessante e impedosamente pelos mínimos erros. A derrota é a regra, não a exceção, e o Dark Souls não faz nenhum esforço para ajudar o protagonista além dos tutoriais iniciais básicos.

E não é que a ideia pegou?

A comunidade abraçou o conceito da punição por design e, na mesma proporção, a recompensa por dominar cada aspecto da experiência. Dark Souls influenciou diversas produções desde a sua origem, incluindo novos clássicos como Shovel Knight, Hollow Knight e o reboot de God of War. Ao que tudo indica, essa punição sedutora veio para ficar.

Vamos relembrar?

Demon’s Souls (2009)

Demon's Souls (2009)

Antes de mais nada, é preciso esclarecer que Demon’s Souls é uma propriedade intelectual separada e exclusiva, assim como Bloodborne e Sekiro. Mas decidimos inclui-los na lista por claramente serem ancestrais e sucessores espirituais de Dark Souls.

O cenário em Demon’s Souls é o reino de Boletaria, dividido em cinco sinistras regiões que podem ser exploradas em qualquer ordem. Dos belos muros do Castelo de Boletaria à Torre de Silent Hill – quer dizer, Latria –, os mapas em Demon’s Souls são habitados por criaturas vis e violentas, e oferecem poucas oportunidades para respirar. E a gente tem uma espadinha e um escudo, com sorte.

Por ser o primeiro jogo da franquia, que recebeu trocentos aprimoramentos ao longo dos anos, Demon’s Souls fica um pouco atrás dos seus primos recentes. O combate ainda não era tão refinado, e algumas características que viriam a ser marcas do design não haviam dado as caras por aqui.

Ainda assim, mesmo hoje em dia, Demon’s Souls é um pesadelo maravilhoso, juntando RPG e ação de forma empolgante e inteligente. E o progresso de jogo é justo, apesar do desafio brutal.

Em 2020, Demon’s Souls foi remasterizado para o novíssimo PlayStation 5, com poucas novidades de destaque, mas mantendo a qualidade do original.

Umbasa!

Dark Souls (2011)

Dark Souls (2011)

O primeiro Dark Souls continua sendo o jogo mais importante e emblemático da série, mesmo uma década depois do seu lançamento.

O mundo é maior, mais aberto e mais detalhado que o de Demon’s Souls, e destaca-se mesmo comparado a seus sucessores.

Com poucas exceções, se uma construção é visível na distância, você pode visitá-la. As regiões de Lordran são tematicamente variadas e vastas, e apesar de não possibilitar viagens rápidas (warps) no começo, os brilhantes atalhos e conexões evitam que a exploração fique maçante.

Dark Souls é uma raridade nos games, apresentando um novo universo ‘dark fantasy’ fascinante para ser descoberto, visual de tirar o fôlego e o desafio gratificante que consolidou a série na história.

Dark Souls 2 (2014)

Dark Souls 2 (2014)

Com a missão quase impossível de superar um dos maiores jogos de todos os tempos, Dark Souls 2 trouxe algumas mudanças controversas que, à sua maneira, fizeram desta sequência uma experiência única e envolvente.

Talvez os desenvolvedores na From Software tenham se perdido um pouco na fama do desafio hardcore. Dark Souls 2 alterou pequenos valores relacionados a vários aspectos do design – invencibilidade, stamina, cura –, tudo pra pegar os veteranos do jogo anterior de surpresa. O resultado veio como uma bola de neve.

Por um lado, as modificações são interessantes ao forçar o jogador a buscar alternativas e não repetir as mesmas estratégias que funcionavam antes. Por outro lado, o gameplay ficou meio ‘duro’ e refém de caminhos fixos, particularmente a nova estatística Adaptability, que sempre vai roubar pontos de outras classes na construção do personagem por um benefício que os outros jogos da série oferecem sem custo.

Dito isso, Dark Souls 2 é um jogo excepcional, com um gigantesco mundo aberto e cheio de surpresas, lutas inesquecíveis e boas inovações, como os Bonfire Ascetics, que resetam itens e chefes em toda a área em volta de uma fogueira.

Um ano depois, Dark Souls 2 recebeu uma versão definitiva intitulada Scholar of the First Sin, disponível integralmente para os sistemas da geração PS4/Xbox One e parcialmente para os anteriores. PS3 e Xbox 360 tiveram só alguns updates menores, enquanto as versões modernas foram agraciadas com 60 fps e uma redistribuição completa de itens e inimigos.

Bloodborne (2015)

Bloodborne (2015)

O trabalho de H. P. Lovecraft é a maior influência nesta obra-prima do PlayStation 4. Bloodborne acontece em uma fictícia era vitoriana tomada pela fantasia.

As ruas da cidade de Yharnam foram invadidas por criaturas que caçam e são caçadas por Hunters, grupo do qual o jogador faz parte.

A estrutura de jogo é idêntica à de Dark Souls, com as mesmas punições (morre, perde grana), distribuição parecida de estatísticas, e o mesmo sistema de progressão. É a mecânica que destaca Bloodborne elegantemente entre os Souls.

A interrupção com arma, ou ‘gun parry’, lidera as ótimas adições de Bloodborne ao meta Souls, que ainda incluem o rally (HP recuperado ao atacar inimigos logo depois de sofrer dano), as Trick Weapons (armas que se transformam) e partes vulneráveis nos chefes que os desabilitam por um tempo.

Ao contrário de Dark Souls 2, que acabou desacelerando o combate com suas mudanças, as alterações em Bloodborne incentivam um estilo de jogo ágil e agressivo, oferecendo uma recompensa maior a curto e longo prazo.

Dark Souls 3 (2016)

Dark Souls 3 (2016)

Em time que ganha não se mexe, certo? Esse aí com certeza foi o mote no desenvolvimento de Dark Souls 3, sequência que faz incontáveis homenagens aos jogos anteriores e conserta algumas das alterações questionáveis de Dark Souls 2 – como os frames de invencibilidade e o consumo de stamina, demasiadamente rígidos no antecessor.

O gameplay foi notavelmente aprimorado, possibilitando ao jogador um controle maior sobre a ação, mas compensando no comportamento dos inimigos, agora mais espertos e preparados para táticas manjadas como a repetição de backstabs.

As principais novidades em Dark Souls 3 são as Skills, técnicas de combate que usam a barra de magia para executar uma habilidade especial para cada arma. As Skills variam de benefícios temporários em alguma stat até golpes exclusivos.

Por fim, o terceiro Dark Souls é também o mais linear, sem grandes escolhas de rota, mas ainda com áreas imensas e complexas e segredos por todos os cantos.

Sekiro: Shadows Die Twice (2019)

Sekiro: Shadows Die Twice (2019)

Jogo que mais diverge da fórmula Souls, Sekiro empresta ideias do gênero Stylish Action e até lembra um pouco o seu contemporâneo Nioh, que por sua vez havia se inspirado em Dark Souls em sua concepção.

Sekiro aboliu praticamente todos os elementos RPG em favor de um conceito de gameplay mais reativo. O combate dá ênfase ao bloqueio de ataques inimigos com timing que leva a contra-ataques devastadores, uma técnica conhecida como parry, que já tinha aparecido nos Souls anteriores, mas que aqui é indispensável para a sobrevivência.

Agora é esperar por Elden Ring, o próximo jogo da From Software, dirigido por Miyazaki e com mitologia elaborada por ninguém menos que George R. R. Martin, autor dos livros que deram origem a Game of Thrones. Elden Ring tem lançamento marcado para janeiro de 2022, para PS4, Xbox One e os consoles da nova geração.

E aí, já jogou toda a série Souls? Tem um favorito? Eu fico dividido entre o Dark Souls original e Bloodborne, mas acho todos excelentes.

Se você quiser ler sobre outros jogos com desafio extremo, dê uma olhada em nossa retrospectiva sobre Devil May Cry. E veja a análise sobre Resident Evil Village, que chegou faz pouco tempo!

Até mais!

Renato Penov
Renato Penov
Olá! Meu nome é Renato Penov, nasci em 1983 e sou apaixonado por games desde criança. Sou formado em Comunicação Social pela ESPM e, além dos games, gosto bastante de desenhar, escrever e de cinema. Para quem curte conteúdo de arte, tenho um perfil no Instagram com tirinhas e desenhos variados: @renpenov. Meu game favorito é Mega Man 3, desde a infância. Meu primeiro console foi o NES, que a gente chamava na época de Nintendinho.

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